quinta-feira, 4 de junho de 2020

Ceilândia, Pôr-do-Sol, Samambaia e Estrutural descumprem a quarentena

O avanço acelerado do novo coronavírus em regiões administrativas, como Ceilândia, Samambaia, Estrutural e Pôr-do-Sol fez com que o Governo do Distrito Federal analisasse a possibilidade de suspender a flexibilização das medidas de contenção nessas áreas e determinar o fechamento das atividades comerciais. Por ora, está fora dos planos do Executivo local decretar lockdown — paralisação de todas as atividades — nesses locais. A intenção é que o bloqueio total só seja usado se a situação chegar a um cenário extremo. A decisão sobre a questão deve ser tomada após a análise dos dados desta semana.

As quatro regiões — compostas, majoritariamente, por população de baixa e média renda — preocupam o GDF, porque passaram a figurar recentemente entre as áreas com mais casos e mortes. Ceilândia lidera a lista. Na avaliação da equipe do governo, os moradores dessas localidades não seguem as orientações e as determinações para se proteger da covid-19.

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No domingo, uma força-tarefa do governo esteve nessas cidades para promover medidas de conscientização e de sanitização. Houve distribuição de máscaras e desinfecção. No mesmo dia, o governador Ibaneis Rocha (MDB) gravou um vídeo com apelo para que a população, especialmente a dessas regiões, proteja-se. Ibaneis também comentou a possibilidade de voltar atrás na liberação do comércio. “Vocês, comerciantes, que agora têm a oportunidade de retomar atividades, façam isso com responsabilidade. Não nos obriguem a tomar medidas mais duras”, alertou. Ele também assegurou que haveria rigor para o cumprimento das normas. “E nos casos em que houver resistência às regras estabelecidas, haverá, sim, contra a nossa vontade, aplicação de multas e até o fechamento dos estabelecimentos”, acrescentou.

Deputados distritais manifestaram-se nos últimos dias a favor de que seja decretado o lockdown nessas regiões. Chico Vigilante (PT), cuja base política é Ceilândia, é a voz a favor da medida e levou a ideia ao GDF. “Eu pedi o fechamento completo da cidade. O melhor seria fechar todas essas regiões, mas, se não for possível, poderia começar esse controle por aqui (Ceilândia). Levei esse pedido ao secretário de Saúde, Francisco Araújo, e ao secretário-chefe da Casa Civil, Valdetário Monteiro”, revelou o distrital.

O parlamentar sugere, ainda, que o GDF envie, também, a Polícia Militar e representantes dos órgãos do governo para que a fiscalização seja rigorosa na cidade. “É preciso uma medida forte o mais rápido possível para que essa situação seja controlada”, argumentou. Chico Vigilante alega que a população deixou de cumprir as medidas de distanciamento. “A queda começou quando houve aquele passeio tenebroso do (Jair) Bolsonaro aqui em Ceilândia (em 29 de março). A partir daí, começou a crescer o movimento e, hoje, está incontrolável. São festinhas nas casas, pessoas nas praças. Parece que não está ocorrendo nada”, lamentou.

Riscos

O epidemiologista da Universidade de Brasília (UnB) Jonas Brant acredita que o fechamento do comércio em apenas algumas regiões administrativas pode trazer consequências negativas à pandemia. De acordo com ele, o governo precisa, primeiro, engajar a população nas cidades mais vulneráveis e conceder apoio econômico, para garantir que elas permaneçam em casa. “A medida de flexibilização da abertura das lojas foi um erro gravíssimo nesse momento”, avaliou.

Em relação ao lockdown, o especialista ressalta que fazê-lo isoladamente gerará problemas. Como no DF muitas pessoas moram em uma cidade e trabalham em outra, o fechamento de uma região acarretará problemas. “Como o governo vai fazer a gestão dessas pessoas que têm trabalhos essenciais?”, questionou.

Jonas reforçou que quem trabalha no comércio, geralmente, é de regiões mais fragilizadas. “Estão exigindo que elas saiam de casa em ônibus lotado para trabalhar em locais sem boas condições de inspeção. O quadro é grave”, avaliou. Para ele, o GDF também precisa observar a capacidade do sistema público de saúde.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O Chorume do Aterro Sanitário em Samambaia Transborda



m meio ao alto risco de vazamentos das bacias pelo excesso de chorume armazenado, a área técnica do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) pediu que seja decretado estado de emergência no Aterro Sanitário de Brasília (ASB), localizado em Samambaia.
Documento obtido com exclusividade pelo Metrópoles revela que o sistema de tratamento do resíduo “entrou em colapso” após as fortes chuvas registradas nos últimos dias no Distrito Federal e passou a gerar preocupação aos agentes públicos.
O texto, assinado pela diretora de Limpeza Urbana do órgão, Eliana Nicolini, e endossado por oito integrantes das comissões executoras de contratos de gestão dos resíduos, reforça a necessidade de se criar alternativas para o tratamento do líquido poluente.
O temor é com “a possibilidade de um desastre ambiental, de proporções incalculáveis, o que poderá causar situação de calamidade pública”. A informação consta no Memorando n° 16/2020 – SLU/Presi/Dilur.
No mesmo registro, os técnicos alertam sobre a necessidade de uma nova empresa, além da que já opera no local, para auxiliar no tratamento de chorume.
“Nesse sentido, seguem as medidas emergenciais a serem adotadas, com a urgência que o caso requer: retirada imediata do efluente bruto armazenado ( 50 mil m³) para destinação adequada; e contratação, em caráter de urgência, de empresa especializada em tratamento do efluente com capacidade mínima diária de 1 mil m³, além dos 1.100 m³ que estão previstos no processo de nova contratação, que já está em curso”, reforça.
REPRODUÇÃO / DEFESA CIVILReprodução / Defesa Civil
Vistoria flagrou restos de chorume vazado na área fora da bacia de contenção
SLU é notificado
Por conta dos mesmos riscos, a Defesa Civil notificou o SLU, após uma vistoria no aterro, para que tome medidas urgentes a fim de reparar possíveis danos já causados pelo transbordo do líquido tóxico. “Observamos os riscos de transbordamento, sangramento, rompimento, total ou parcial da bacia de contenção de chorume, com o seu extravasamento para o lençol freático e ambiente fluvial do Rio Melchior”, alerta o órgão de segurança.
O documento também ressalta que as chuvas do período potencializam o problema: “Ameaças ao transbordamento estão inseridas no local; a ação das precipitações atmosféricas; declividade do relevo e ventos, que podem desestabilizar e derramar o chorume; a excessiva quantidade de chorume passivo a ser tratado em pouco espaço de tempo com estrutura mínima, causando o transbordamento”.
Ainda segundo o texto, “solicitamos medidas que busquem a minimização ou mitigação de possíveis desastres na área, em caráter emergencial, evitando danos à saúde, ao meio ambiente, prejuízos econômicos e sociais” se o passivo de chorume entrar em contato com o Rio Melchior.
A corrente de água é afluente do Rio Descoberto, que desemboca na Barragem do Descoberto, principal represa de abastecimento da maior parte do Distrito Federal. Para a Defesa Civil, é essencial que haja um monitoramento diário que acompanhe o acúmulo de chorume.
Veja os documentos:
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) também acionou o Governo do Distrito Federal (GDF) e cobrou explicações sobre os riscos de vazamento do chorume produzido no aterro.
À reportagem, o promotor Roberto Carlos Batista, da 3ª Promotoria de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, explicou que a contratação emergencial da empresa só foi permitida pela necessidade iminente de a empresa tratar e dar vazão ao chorume. “Foi constatado que um vazamento chegou a atingir o Córrego Melchior e o governo teve de tomar essa providência imediata”, disse.
Para o representante do órgão fiscalizador, o objeto do contrato está justamente em devolver o chorume tratado para a natureza sem o risco de impacto ambiental. Segundo ele, a estação de tratamento da Companhia de Saneamento do DF (Caesb) é incompatível para o manuseio do líquido contaminado.
Para afastar o desastre ambiental iminente, o SLU construiu, às pressas, nova lagoa de contenção do rejeito. Com capacidade de aproximadamente 5 mil metros cúbicos, duas novas lagoas entraram em operação: uma na última segunda-feira (28/01/2020) e outra na quinta-feira (30/01/2020). Outras duas estão sendo construídas.
O outro lado
A reportagem acionou o Palácio do Buriti, bem como o SLU. Por nota, o GDF apontou que há diferença entre “transbordo” e “vazamento”, e o que ocorreu, no local, foi transbordo, mas que foi interrompido pelas barreiras de contenção criadas para casos como esse.
O SLU também informou ter acatado a sugestão de declarar a situação de emergência no local. “É um tipo de comunicação dentro do trâmite interno, que já está em atendimento.”
Para o órgão, medidas já foram tomadas após as advertências de desastre ambiental. “As recentes trocas de ofícios entre SLU, Ministério Público e Adasa indicam, justamente, a busca da melhor solução técnica para o tratamento da questão, sem qualquer indicação de ocorrência de vazamentos”, disse, em nota.
“Esse trabalho em conjunto, inclusive, é o que torna possível as medidas mitigantes que estão sendo promovidas, como a criação de mais quatro lagoas de chorumes de maior capacidade – a primeira já operando desde segunda-feira e a outra, nessa quinta-feira”, destacou. Ainda segundo o SLU, o volume já foi estabilizado na unidade, mitigando os riscos.

SOBRE O AUTOR
Caio Barbieri
Cursou jornalismo no Centro Universitário de Brasília (UniCeub). Passou pelas redações do Correio Braziliense, Agência Brasil, Rádio Nacional e foi editor-adjunto da Tribuna do Brasil. Ocupou a assessoria especial no Ministério da Transparência e foi secretário-adjunto de Comunicação do GDF. Chefiou o relacionamento com a imprensa na Casa Civil, Vice-Governadoria, Secretaria de Habitação e na Secretaria de Turismo do DF. Fez consultoria para vários partidos, entidades sindicais e políticos da Câmara Legislativa e do Congresso Nacional. Assina a coluna Janela Indiscreta do Metrópoles e cobre os bastidores do poder em Brasília.
Caio Barbieri
Cursou jornalismo no Centro Universitário de Brasília (UniCeub). Passou pelas redações do Correio Braziliense, Agência Brasil, Rádio Nacional e foi editor-adjunto da Tribuna do Brasil. Ocupou a assessoria especial no Ministério da Transparência e foi secretário-adjunto de Comunicação do GDF. Chefiou o relacionamento com a imprensa na Casa Civil, Vice-Governadoria, Secretaria de Habitação e na Secretaria de Turismo do DF. Fez consultoria para vários partidos, entidades sindicais e políticos da Câmara Legislativa e do Congresso Nacional. Assina a coluna Janela Indiscreta do Metrópoles e cobre os bastidores do poder em Brasília.
Caio Barbieri
Cursou jornalismo no Centro Universitário de Brasília (UniCeub). Passou pelas redações do Correio Braziliense, Agência Brasil, Rádio Nacional e foi editor-adjunto da Tribuna do Brasil. Ocupou a assessoria especial no Ministério da Transparência e foi secretário-adjunto de Comunicação do GDF. Chefiou o relacionamento com a imprensa na Casa Civil, Vice-Governadoria, Secretaria de Habitação e na Secretaria de Turismo do DF. Fez consultoria para vários partidos, entidades sindicais e políticos da Câmara Legislativa e do Congresso Nacional. Assina a coluna Janela Indiscreta do Metrópoles e cobre os bastidores do poder em Brasília.